Os riscos epistêmicos do transplante jurídico de um Plea Bargaining à Brasileira

Necessários apontamentos críticos

Autores

  • Bárbara Feijó Ribeiro Unicuritiba
  • Michelle Gironda Cabrera Centro Universitário Curitiba

Palavras-chave:

Plea bargaining, Acordo penal, Justiça Negocial

Resumo

A presente pesquisa busca avaliar os problemas decorrentes da incorporação vertical e acrítica do instituto do plea bargaining enquanto modelo de justiça penal negocial no Brasil. Mesmo dentro de um sistema acusatório/adversarial de processo, o debate a respeito da ampliação dos espaços de consenso na justiça penal não é imune a críticas. Neste sentido, o texto faz uma análise comparativa entre os modelos brasileiro e estadunidense de processo penal, para, a partir da mirada crítica à disparidade de armas no atual modelo vigente no Brasil, demonstrar que sem uma reforma global (legislativa e de mentalidade quanto à atuação dos agentes do sistema de justiça criminal), a incorporação de um instituto como o plea bargaining poderá causar consequências nefastas e agravar, ainda mais, a desigualdade que é marca registrada do processo penal no país.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Bárbara Feijó Ribeiro, Unicuritiba

Estagiária de Pós-Graduação no Núcleo de Política Criminal e Execução Penal (NUPEP) da Defensoria Pública do Paraná. Pós-Graduanda em Direito Penal e Criminologia pelo CEI e Introcrim. Graduada em Direito pelo Centro Universitário Curitiba. Advogada criminalista.

Michelle Gironda Cabrera, Centro Universitário Curitiba

Doutora em Direito Socioeconômico e Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, com pesquisa financiada pela CAPES (2019). Professora de Direito Penal e Processual Penal no Centro Universitário Curitiba e na Faculdade de Pinhais. Professora do curso de Introdução ao Processo Penal do Introcrim. Coordenadora do Grupo de Estudo Antipatriarcalismo do Observatório da Mentalidade Inquisitória. Advogada criminalista.

Referências

BADARÓ, Gustavo. Editorial dossiê “Prova penal: fundamentos epistemológicos e jurídicos”. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 4, n. 1, jan./abr. 2018.

BOHM, Robert M. “McJustice”: on the McDonaldization of criminal justice. Justice Quarterly, v. 23, n. 1, p. 127-146, 2006. Disponível em: https://www.ojp.gov/ncjrs/virtual-library/abstracts/mcjustice-mcdonaldization-criminal-justice. Acesso em: 21 mar. 2021.

BRASIL. Senado Federal. Projeto do Senado de nº 5282, de 2019. Brasília, DF, 2019. Disponível em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/139043. Acesso em: 21 mar. 2021.

CHOUKR, Fauzi Hassan. A reforma global do Código de Processo Penal: uma refundação garantista. In: Revista do Ministério Publico do Estado de Goiás, p. 21-34, jul./dez. 2017.

COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Introdução aos princípios gerais do processo penal brasileiro. Revista da Faculdade de Direito da UFPR, a. 30, n. 30, 1998.

COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda Para tentar entender uma refundação do CPP do Brasil na direção do sistema acusatório. In: NUNES DA SILVEIRA, Marco Aurélio; COSTA DE PAULA, Leonardo (Orgs.). Mentalidade Inquisitória e Processo Penal no Brasil: Escritos Em Homenagem Ao Prof. Dr. Jacinto Nelson De Miranda Coutinho. Volume 5. Curitiba: Observatório da Mentalidade Inquisitória, 2019. p. 25.

COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda; COSTA DE PAULA, Leonardo; NUNES DA SILVEIRA, Marco Aurélio (Orgs.). Mentalidade inquisitória e processo penal no Brasil: diálogos sobre processo penal entre Brasil e Itália. Volumes 1 e 2. Curitiba: Observatório da Mentalidade Inquisitória, 2019.

COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda (Org.); COSTA DE PAULA, Leonardo (Org.); NUNES DA SILVEIRA, Marco Aurélio (Org.). Mentalidade inquisitória e processo penal no Brasil: estudos sobre a reforma do CPP no Brasil. Volume 4. Curitiba: Observatório da Mentalidade Inquisitória, 2018.

DEFENSORES dizem ganhar menos que juízes e promotores por protegerem pobres. Revista Consultor Jurídico — Conjur, 24 de dezembro de 2014. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2014-dez-24/defensoria-ganhar-magistratura-mp-proteger-pobres. Acesso em: 20 mar. 2021.

FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão. Teoria do Garantismo Penal. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.

FISHER, George. Plea bargaining’s triumph. Yale Law Journal, v. 109, 2000. Disponível em: https://digitalcommons.law.yale.edu/ylj/vol109/iss5/1/. Acesso em: 20 mar. 2021.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. 27. Ed. Petrópolis: Vozes, 1987.

HAACK, Susan. Evidence and Inquiry: a pragmatist reconstruction of epistemology. New: Prometheus Books, 2009. p. 362.

HAACK, Susan. Evidence Matters. Science, Proof, and Truth in Law. New York: Cambridge Un. Press, 2014.

BADARÓ, Gustavo. Editorial dossiê Prova penal: fundamentos epistemológicos e jurídicos. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 4, n. 1, jan./abr. 2018.

LANGER, Máximo. From Legal Transplants to Legal Translations: The Globalization of Plea Bargaining and the Americanization Thesis in Criminal Procedure. Harvard International Law Journal, v. 45. n. 01, 2004. p. 01-65. Tradução de Ricardo Jacobsen Gloeckner e Frederico C. M. Faria. Disponível em: http://delictae.com.br/index.php/revista/article/view/41. Acesso em: 20 mar. 2021.

LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.

MACHADO, Bruno Amaral (Coord.). Justiça Criminal e Democracia. São Paulo: Marcial Pons, 2013.

MADEIRO, Carlos. Superlotadas, prisões no Brasil gastam R$ 15,8 bilhões ao ano, diz TCU. UOL Notícias, Maceió, 17 jul. 2019. Notícias: Cotidiano. Disponível em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/07/17/superlotadas-prisoes-no-brasil-gastam-r-158-bilhoes-ao-ano-diz-tcu.htm. Acesso em: 20 mar. 2021.

MATIDA, Janaína. O problema da verdade no processo: a relação entre fato e prova. Dissertação (Mestrado em Teoria do Estado e Direito Constitucional) — Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.

MORAIS DA ROSA, Alexandre. Guia do Processo Penal conforme a Teoria dos Jogos. 6. ed. Florianópolis: EMais, 2020.

NUNES DA SILVEIRA, Marco Aurélio; COSTA DE PAULA, Leonardo (Orgs.). Mentalidade Inquisitória e Processo Penal No Brasil: Escritos Em Homenagem Ao Prof. Dr. Jacinto Nelson De Miranda Coutinho. Vol. 5. Curitiba: Observatório da Mentalidade Inquisitória, 2019.

PRADO, Geraldo. O estatuto jurídico da acusação e o Projeto de Lei Anastasia-Streck – parte I. Consultor Jurídico— Conjur, Mar. 2020a. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-mar-03/geraldo-prado-estatuto-acusacao-pl-anastasia-streck. Acesso em: 21 mar. 2021.

PRADO, Geraldo. O estatuto jurídico da acusação e o Projeto de Lei Anastasia-Streck – parte II. Consultor Jurídico — Conjur, Mar. 2020b. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-mar-04/geraldo-prado-estatuto-acusacao-pl-anastasia-streck-ii. Acesso em: 21 mar. 2021.

ROBERTS, Anna. Convictions As Guilt. Fordham Law Review, v. 88, n. 6, p. 2501-2550, 2020. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=3389597. Acesso em: 21 mar. 2021.

ROQUE, Igor. Em defesa da valorização da Defensoria Pública do Brasil. Revista Consultor Jurídico. Consultor Jurídico — Conjur, 25 de novembro de 2014. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2018-nov-25/igor-roque-defesa-valorizacao-defensoria-publica-brasil. Acesso em: 20 mar. 2021.

SAROKIN, H. Lee. Why Do Innocent People Plead Guilty? Huff Post., 29 jul. 2012. Disponível em: https://www.huffpost.com/entry/innocent-people-guilty-pleas_b_1553239. Acesso em: 21 mar. 2021.

SAWYER, Wendy; WAGNER, Peter. Mass Incarceration: The Whole Pie 2020. Prison Policy Initiative, 24 mar. 2020. Reports. Disponível em: https://www.prisonpolicy.org/reports/pie2020.html. Acesso em 21 mar. 2021.

SILVA, Fernando Laércio Alves da. Quem nos salvará da bondade dos bons? O problema da instituição dos acordos pré-processuais sobre a pena fora das balizas da adversariedade e do marco da justiça restaurativa. In: COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda; POSTIGO, Leonel González, SILVEIRA, Marco Aurelio Nunes da. Relexiones brasileñas sobre la reforma procesal penal en Uruguay: Hacia la Justicia Penal Acusatoria en Brasil. Curitiba: Observatório da mentalidade Inquisitória, 2019. p. 293.

USSC – United States Sentencing Commission. 2019 annual report and sourcebook of federal sentencing statistics. Disponível em: https://www.ussc.gov/research/sourcebook-2019. Acesso em: 02 mar. 2021.

VIEIRA, Antonio. Crítica à Americanização Seletiva do Processo Penal Brasileiro: da necessária adoção de regras de discovery e as consequências jurídicas de sua inobservância. NUNES DA SILVEIRA, Marco Aurélio (Org.); COSTA DE PAULA, Leonardo (Org.). Mentalidade Inquisitória e Processo Penal no Brasil: escritos em homenagem ao Prof. Dr. Jacinto Nelson de Miranda Coutinho. Volume 5. Curitiba: Observatório da Mentalidade Inquisitória, 2019. p. 275.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl; CARRANZA, Elías (Coords.). Los derechos fundamentales en la instrucción penal en los países de América Latina. México: Porrúa, ILANUD y Raoul Wallenberg Institute, 2007,

CÓRDOBA, Lea Marina Meza; TERÁN, Sérgio J. Cuarezma. ¿La Justicia Penal para la economia? In: MACHADO, Bruno Amaral (Coord.). Justiça Criminal e Democracia. São Paulo: Marcial Pons, 2013.

Downloads

Publicado

2021-06-02

Como Citar

RIBEIRO, B. F.; CABRERA, M. G. Os riscos epistêmicos do transplante jurídico de um Plea Bargaining à Brasileira: Necessários apontamentos críticos. Revista da Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 1, n. 28, p. 173–196, 2021. Disponível em: https://revista.defensoria.rs.def.br/defensoria/article/view/361. Acesso em: 18 abr. 2024.